A métrica rígida, a cadência musical, as aliterações e rimas preciosas dos versos que se fundem ao esdrúxulo vocabulário extraído da área científica de seu único livro, "Eu", publicado em 1912, fez a BBB Pink se enrolar ao recitar o poeta paraibano Augusto dos Anjos, ontem, durante a prova do Big Boss. Foi salva pelo professor Jean — claro! —, que conhecia o poema de cor. Esse eu também conheço, fã de Augusto dos Anjos desde a adolescência...
Surgido em momento de transição, pouco antes da virada modernista de 1922, os poemas de "Eu" são bem representativos do espírito sincrético que prevalecia na época, parnasianismo por alguns aspectos e simbolista por outros. Praticamente ignorado a princípio, esse livro que canta a degenerescência da carne e os limites do humano vem sendo reedidato desde 1919 como "Eu e outras poesias".
Augusto dos Anjos faleceu em 1914, aos 30 anos, vítima de peneumonia.
VERSOS ÍNTIMOS
Augusto dos Anjos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo.
Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Surgido em momento de transição, pouco antes da virada modernista de 1922, os poemas de "Eu" são bem representativos do espírito sincrético que prevalecia na época, parnasianismo por alguns aspectos e simbolista por outros. Praticamente ignorado a princípio, esse livro que canta a degenerescência da carne e os limites do humano vem sendo reedidato desde 1919 como "Eu e outras poesias".
Augusto dos Anjos faleceu em 1914, aos 30 anos, vítima de peneumonia.
VERSOS ÍNTIMOS
Augusto dos Anjos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo.
Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
4 comentários:
Augusto dos Anjos tá na listinha de coisas "sempre bem vindas". Este poema em especial. valeu, Debora.
Elaine, elaine, que será da Tempo Vago sem você?!
ahahaha. Deve ter uma fila de gente querendo ser interina do Tempo Vago :)
Ler Augusto dos Anjos e relembrar "velhos tempos" faz com que lhe diga mais uma vez "Obrigada".
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