Contém spoiler
A frase de um dos filmes fraquinhos da já antiga série sobre o Homem-Morcego que ficou gravada no imaginário coletivo dos cinéfilos do mundo todo, e dá nome a este post, agora tem dono definitivo: Christian Bale. O cara nasceu para personificar o Batman. E o que é melhor, é um ótimo Bruce Wayne. Porque a série de filmes produzidos nos últimos anos (que já viraram passado, como eu disse, desde Begins, o primeiro de Bale) tinha uma espécie de maldição — o ator ou era um Batman razoável, ou dava um ótimo Bruce Wayne.
Bale é tudo isso. E mais um pouco. Se já havia impressionado na sua estréia dentro da armadura negra, em O Cavaleiro das Trevas, fechou, definitivamente, o caixão das interpretações anteriores. O novo filme tem todos os ingredientes imprescindíveis a um bom filme de ação. Transforma as quase três horas de duração em instantes e dá vontade de ficar para a próxima sessão. Pena que a nova geração de cinemas, com seus lugares marcados e lanterninhas cri-cris, que mais parecem seguranças de banco, não o permita.
Tudo bem que Begins tinha mais enredo. Contar a história do surgimento do Batman — um herói que supera seu maior medo, um homem com uma relação estreita com seu pai, um justiceiro milionário — da forma que foi contada, foi espetacular. Pode-se dizer que, nesse sentido, O Cavalei do das Trevas nem seja, assim, tão. É diferente. O que era enredo dá lugar a sentimentos. Os piores, claro, porque tudo é sombrio no novo filme, do herói aos vilões.
Por falar em vilão, o Coringa de Heath Ledger merece um parágrafo (ou dois) à parte. Impressionante como o cara fez, postumamente, o grande Jack Nicholson morder a língua. A personagem criada por um e outro nada tem a ver. O ar caricato, embora muito bem-feito, do Coringa de Nicholson, lembra, um pouco de longe, o Coringa para criancinhas da TV. Isso ficou ainda mais claro depois do palhaço terrorista encarnado por Ledger. Na loucura tamanha do homem sem nome e sem rosto, que beira a lucidez. Um texto primoroso que, algumas vezes, incrivelmente, deve ter feito o espectador balançar a cabeça em anuência — guardadas, obviamente, as devidas proporções entre realidade e ficção.
Merecedor se a Academia presentear o ator com uma indicaçãozinha ao Oscar, pelo menos. De onde ele estiver, com certeza, ficará contente com o reconhecimento ao trabalho primoroso, que deixará um problema para os irmãos Nolan (o diretor, Christopher, e o roteirista, Johnathan) — arrumar um substituto para Ledger. Eu, cá do país tropical, do meu blog que rompe fronteiras, tenho uma indicação, se eles aceitarem sugestões, para dar seqüência à participação do Coringa nas próximas produções: um ex-Batman, Val Kilmer.
Mas, a despeito das interpretações primorosas de Bale e Ledger, o verdadeiro fio condutor de O Cavaleiro das Trevas não é o Homem-Morcego e sua luta contra o Coringa. Nem o fato de o vilão ter o poder de mexer com a cabeça do mocinho, levando-o a um outro extremo de sua lógica, a ponto de... bem, seria spoiler demais comentar, não é mesmo? Quem já viu deve ter notado, e quem verá e chegou até este ponto do texto, apesar do aviso na primeira linha do post, precisará prestar atenção a elementos pouco perceptíveis ao espectador comum, mas que são a essência do longa e, por sua vez, justificam o título do filme.
A Gotham City de O Cavaleiro das Trevas aparece bem diferente, de início. Clara, iluminada. São ecos da atuação de Batman, que há dois anos combate o crime na cidade. "Os bandidos agora agem à luz do dia", chega a dizer o Coringa. Mas para combater o crime é preciso desrespeitar certas leis. Essa conclusão, que fica implícita durante quase todo o filme, provoca uma mudança considerável de conceito sobre o próprio Homem-Morcego ao término do filme, que chega a surpreender.
E é essa dualidade da Gotham iluminada/sombria, da luta do bem contra o mal, que traduz a essência de uma outra personagem, Harvey Dent, o "cavaleiro branco", a esperança de que dias melhores virão até para Bruce Wayne, e cuja trajetória traz à tona o "lado negro" do Batman. Aí, sim, mora o verdadeiro fio condutor do filme. Não é à toa que Dent virá a personificar essa dualidade, transformando-se no vilão Duas-Caras (aquele da moeda, lembram?).
O desenvolvimento da trama, se você parar para analisar, é toda com essa finalidade: o nascimento do Duas-Caras. E a mudança não ocorre de imediato, assim que o acidente com Dent acontece; ela vem num crescendo, embora só o espectador mais atento perceba as mudanças no ex-corregedor de polícia. Outra construção muito bem feita de personagem no filme — nem vou mencionar o, agora, sim, comissário Gordon, o mordomo Alfred e o genial Lucius de Morgan Freeman — e da maquiagem impecável e igualmente sombria. Palmas para Aaron Eckhart, que a sustentou bravamente.
Mal saí da sala do cinema e já sentia que o próximo filme do Batman, ainda sem data definida, já gerava uma expectativa — pelo modo como mudança radical sobre o personagem será desenvolvida, porque o Batman termina oficialmente como um foragido que será caçado pelo Comissário Gordon e a polícia de Gotham, e pela chegada do próximo vilão: Pingüim ou Charada?
Façam suas apostas!
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