O show do CD/DVD Acústico MTV de Paulinho da Viola, em minitemporada no Canecão até domingo, é simplesmente imperdível. Até mesmo para fãs do The Police, que pagaram uma baba no ingresso para assistir à banda britânica, hoje — chega na bilheteria ao meio-dia e compra poltrona numerada ímpar mesmo, a R$ 20,00; vou te contar... a acústica da choperia é nota dez, e a visão que se tem do palco não ficará a perder nem para a área VIP do Maraca.
'Seu' Paulinho, se seu sobrenome já não fosse 'Viola', deveria ser 'Elegância'. Provavelmente, o nome 'do meio'; aquele que a gente só assina em documento oficial. De pé, só o cavaquinho abraçado ao corpo, Paulinho da Viola surge no palco no meio das cortinas ainda cerradas e na penumbra leva as primeiras estrofes de Timoneiro, um samba quase autobiográfico. O show prossegue com mais duas, três canções, e o compositor prova, mais uma vez, que não perde a linha e a fala macia nem para reclamar de problemas no som.
Com a acústica perfeita, o músico parece relaxar e, entre uma canção e outra, conta histórias para o público, como a da parceria inusitada com Arnaldo Antunes e Marisa Monte na inédita Talismã — uma melodia dessas que, segundo o próprio, ficam guardadas à espera de uma boa letra — e Foi assim, música de Mauro Duarte com letra de Paulinho, que levou dez anos para ser concluída. Muito à vontade, o músico ainda segredou sua preferida, num momento banquinho e violão: Coisas do mundo minha nega.
Um dos pontos altos do show foi Sinal fechado, clássico dos clássicos, que sequer pode ser 'rotulado' na MPB — é, simplesmente, uma obra-prima — com uma interpretação emocionada e emocionante, que deve ter levado muita gente às lágrimas na platéia. Mas talvez tenha sido Foi um rio que passou em minha vida... ou Onde a dor não tem razão, Coração leviano e ainda Eu canto samba ou Argumento. Difícil definir o melhor momento; todos foram especiais.
Cenário simples, iluminação elegante, repertório e interpretações primorosos. Tudo isso acompanhado de uma banda de primeiríssima, nem todos 'feitos' no samba — Cristóvão Bastos (piano), que dispensa apresentações, o baixista Dininho e o flautista Mário Sève, ambos com formação clássica e belas incursões na MPB. Sem falar do violonista João Rabello, filho de Paulinho da Viola, e a filha, Beatriz Faria, vocalista do coro feminino completado por Cristina Buarque e Luísa Adnet. Dividem a percussão César Silva e Esguelba (se é que se escreve assim...), que ainda mostra sua porção sambista, no pé, em alguns momentos do espetáculo.
No bis, uma espécie de tradição do samba: três músicas do set list repetidas — Timoneiro, Talismã e Eu canto samba. No meu bis, uma das inéditas do Acústico MTV, cuja letra precisei 'tirar', já que não a encontrei em lugar nenhum na internet. Mas valeu a pena o trabalho, porque retrata um novo estado de espírito que combina comigo, de alguma forma...
VAI DIZER AO VENTO
Saudade vai dizer ao vento
que a dor da desilusão passou
e saiba que não há tormento tão intenso
como aquele que você me provocou
Saudade tudo tem seu tempo
e o seu já terminou
Espero que depois de todo o que eu passei
você me faça esse favor
Andei revendo tanta coisa em minha vida
e hoje posso controlar a emoção
Fui apagando cada sombra de amargura
que havia dentro do meu coração
Agora vou seguir outro caminho
quem sabe esquecer o que passou
Saudade, diga ao vento que a tristeza deu um tempo
e não esqueça que você já me deixou
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